Mário Quintana – O poeta ultrassensível
09:00 Postado por Unknown
MÁRIO QUINTANA
Diante deste aguçado e magistral lirismo não nos resta mais nada senão contemplarmos a magia e o encantamento presente neste fragmento poético.
Mário Quintana é, como dizia seus amigos e demais críticos literários, o poeta da simplicidade, das coisas mundanas. Seu labor poético era algo intrínseco à sua personalidade, realizado pela simples necessidade efêmera da escrita.
Referindo–se à estética de sua poesia, podemos identificar nuances Românticas e Simbolistas. Românticas em razão do intenso subjetivismo, mas não visto de maneira pessimista e egocêntrica. E simbolistas, ao tratar da temática do amor, característica extremamente relevante em seus poemas, nos quais percebemos um certo clima de misticismo pairando no ar mediante aos ligeiros traços ligados ao Surrealismo.
Podemos caracterizá-lo com sendo um romântico tardio, aliado a uma postura moderna, tanto na temática quanto na estrutura, mas que não deixou de ouvir os “sussurros” de seu coração e do âmago mais profundo de sua alma.
Para melhor compreendermos o seu perfil literário, observemos algumas de suas criações:
A RUA DOS CATAVENTOS
Escrevo diante da janela aberta.
Minha caneta é cor das venezianas:
Verde!... E que leves, lindas filigranas
Desenha o sol na página deserta!
Não sei que paisagista doidivanas
Mistura os tons... acerta... desacerta...
Sempre em busca de nova descoberta,
Vai colorindo as horas quotidianas...
Jogos da luz dançando na folhagem!
Do que eu ia escrever até me esqueço...
Pra que pensar? Também sou da paisagem...
Vago, solúvel no ar, fico sonhando...
E me transmuto... iriso-me... estremeço...
Nos leves dedos que me vão pintando!
DA DISCRIÇÃO
Não te abras com teu amigo
Que ele um outro amigo tem.
E o amigo do teu amigo
Possui amigos também...
BILHETE
Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...
RITMO
Na porta
a varredeira varre o cisco
varre o cisco
varre o cisco
Na pia
a menininha escova os dentes
escova os dentes
escova os dentes
No arroio
a lavadeira bate roupa
bate roupa
bate roupa
até que enfim
se desenrola
toda a corda
e o mundo gira imóvel como um pião!
Conforme dito anteriormente, percebemos que o poeta retrata seu autêntico lirismo a partir de temas ligados ao cotidiano, de acordo com as suas peculiaridades, como bem demonstra nos poemas intitulados: “Da Discrição” e “Ritmo”, como também estabelece certo intimismo como quem dialogasse com o próprio leitor.
Ao nos depararmos com o soneto, identificamos algumas influências parnasianas no que se refere à forma, contudo, tal estrutura foi utilizada somente como força de expressividade subjetiva.

10 de março de 2010 às 16:49
ele era gay para ser ultrasensivel ?